terça-feira, 22 de abril de 2008

Gadgets no trabalho, com ou sem segurança?

Os produtos de tecnologia pessoal viram um recurso para aumentar a produtividade no escritório.

Dentro do hospital, a caminho da clínica ou de casa, o médico oncologista Auro Del Giglio está sempre conferindo — e respondendo — os seus e-mails. Há quatro meses, ele comprou um BlackBerry Curve, com serviço da Vivo, que tem usado para manter sua caixa postal em dia — e também como segundo celular. Além disso, quando precisa consultar informações médicas, ou mesmo o prontuário do paciente, Giglio saca o seu Palm Tungsten, que adquiriu já há cinco anos.

Coordenador do programa integrado de oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, Giglio faz parte da legião de usuários que têm colocado seus dispositivos pessoais — smartphones, memory keys, PDAs e notebooks, principalmente — a serviço do aumento da produtividade no trabalho. Só com o BlackBerry, ele calcula que tem conseguido economizar de uma hora a uma hora e meia do seu tempo por dia. "Minha caixa postal está sempre vazia, porque de qualquer lugar checo meus e-mails", diz.

Além dos pacientes internados no Einstein, Giglio também atende na Clínica de Oncologia e Hematologia (CLIOH), em São Paulo, e dá aulas na Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André. Seu sonho de consumo, no momento, é um smartphone Palm Treo, com o qual pretende aposentar o Tungsten e, de quebra, o celular. "A combinação ideal é o BlackBerry, para e-mail, e o Treo, por causa da consulta a informações médicas", afirma.

A queda dos preços desses dispositivos pessoais, aliada à necessidade de mobilidade, tem feito muita gente investir o próprio salário na compra de um smartphone, um notebook ou um simples pen drive, para poder carregar seus arquivos no bolso. E, ao descobrir a comodidade que esses dispositivos trazem para o seu dia-a-dia, é natural que os usuários queiram levá-los para o trabalho. Por que ficar até tarde na empresa preparando um relatório ou projeto, se basta transferi-lo para o notebook — ou o pen drive — para terminar o trabalho em casa? Além do mais, possuir um dispositivo móvel pode contar pontos na hora de disputar uma vaga de emprego. É o que mostram diversos anúncios publicados em jornais e na internet que exigem, por exemplo, carro e laptop próprios para vagas como supervisor de rede de lojas.

iPhone no trabalho?
Na busca por mais produtividade, a tecnologia pessoal vem se confundindo com as ferramentas corporativas. Essa tendência foi confirmada por uma pesquisa de opinião realizada pela IDC em setembro, nos Estados Unidos, com usuários de iPhone — considerado um gadget pessoal. A enquete revelou que cerca de 70% das pessoas que já possuem ou pretendem adquirir um iPhone têm planos de usá-lo tanto para entretenimento como no trabalho. As principais aplicações mencionadas são o gerenciamento de informações pessoais (contatos, agenda etc.) e o acesso à intranet e aos e-mails corporativos.

Segundo a IDC, o resultado dessa pesquisa vai de encontro à tendência de uso cada vez mais intenso de dispositivos móveis convergentes para atender os dois tipos de necessidades dos seus donos, especialmente os que trabalham fora do escritório: pessoais e de negócios. É o caso de Bruno Queiroz de Carvalho, gerente de planejamento da Hidropig, empresa de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, que presta serviços de limpeza e manutenção de dutos para grandes clientes como a Petrobras. Há cerca de um mês, ele comprou um notebook HP, modelo Compaq Presario V6230, principalmente para levar nas suas viagens — muitas delas para o exterior. "Precisava de uma ferramenta de trabalho e também de comunicação com minha família, com a própria empresa e com a escola técnica onde dou aula", explica.

Ele conta que, durante suas viagens, costumava se comunicar via celular ou rádio Nextel. Mas enfrentava dois problemas: as limitações de cobertura das redes móveis e as altas tarifas das chamadas pelo celular. "Com o notebook, troquei tudo pelo Skype e pelo MSN e ainda posso acessar e-mails, preparar uma proposta para um cliente ou as aulas para meus alunos."

Terror para a segurança
Do lado das empresas, o problema é que o uso indiscriminado de dispositivos pessoais no trabalho traz uma série de ameaças à segurança das redes. "É o terror dos gestores de TI", afirma Ricardo Bachert, presidente da Panda Security no Brasil. Para começar, fica mais fácil extrair informações de dentro da empresa. "Um tocador de MP3, como o iPod, é um HD onde dá para gravar tranqüilamente 1 GB de dados", diz.

Há ainda uma nova porta de entrada de vírus na rede corporativa. Esse tipo de risco ocorre, por exemplo, quando o usuário grava um arquivo no pen drive, para terminar o trabalho em casa, e depois traz de volta para a empresa. "Se o computador da casa dele for usado pelos filhos para acessar sites de jogos ou outros que possam esconder um malware, pode estar infectado", diz Bachert. E, se a rede da empresa não estiver devidamente protegida, ao transferir o arquivo do pen drive para ela, o usuário acaba provocando a sua contaminação.

As facilidades para se adquirir novas tecnologias de uso pessoal tornam essa situação cada vez mais comum. "Existem casos de usuários que compram o access point wireless no exterior, levam para o escritório para poder usar o notebook de qualquer lugar da empresa e, em geral, a área de TI nem fica sabendo", conta Alberto Bastos, diretor de tecnologia da Módulo, que é especializada em segurança da informação.

Boa parte desses usuários tem boas intenções: só quer aumentar a eficiência e a produtividade no trabalho. "O problema é que muitas vezes ele expõe a rede corporativa, conectando-se sem proteção à internet, que está cheia de ameaças", afirma Marcos Prado, gerente de desenvolvimento de canais da Websense para a América Latina.

Ponto de equilíbrio
Gerenciar o número cada vez maior de dispositivos pessoais que se plugam às redes corporativas sem controle virou um desafio para a área de TI das empresas. Segundo a IDC, esse novo universo está tornando as redes mais complexas e exigindo investimentos adicionais em segurança de acesso. Mas apenas proibir o uso de tecnologia pessoal no trabalho não resolve o problema. "É preciso ter um equilíbrio entre as necessidades de negócio e de produtividade e a proteção das informações da empresa", diz Bastos, da Módulo. Em outras palavras: não se pode permitir nem proibir tudo. Até porque quanto mais alto é o grau de segurança, mais baixa é a produtividade.

A saída para chegar ao equilíbrio depende de cada caso. O Hospital Albert Einstein, por exemplo, tem uma política de confidencialidade das informações sobre o paciente, que passa por um termo de compromisso assinado pelos médicos. "Por outro lado, é importante que as informações estejam disponíveis para o médico poder dar um bom atendimento", diz Henrique Nunes, diretor geral do Albert Einstein. Mas só os envolvidos no atendimento do paciente têm acesso às informações do banco de dados. E todos os acessos são monitorados.

PERIGO NO PEN DRIVE
Um memory key aparentemente inocente pode ser uma ferramenta perigosa. Para dar uma idéia do perigo, a americana Laura Chappell, especialista em segurança, fez um teste: espalhou 125 pen drives no estacionamento de uma empresa. Cada um tinha um programinha simples, só para indicar se havia sido conectado a um micro. Resultado: 124 foram usados, sem nenhum cuidado com segurança.

MSN SIM, ORKUT NÃO
Na Petroquímica Triunfo, no Rio Grande do Sul, o uso do MSN, da Microsoft, é liberado para todas as 250 pessoas que trabalham lá. Só não é permitido trocar arquivos via MSN. O bloqueio é feito por uma solução da Websense, que também impede o acesso a sites não relacionados ao trabalho ou à produtividade pessoal. Para o engenheiro de processos Claudio Luis Müller, que trabalha na área de produção, o MSN é hoje a principal forma de comunicação com outros funcionários e, também, com pessoas de fora da empresa — que está a 70 km de Porto Alegre. Até há um ano, quando a Triunfo permitia o livre acesso à internet, Müller era assíduo freqüentador do orkut. "Quando a empresa bloqueou o site, minha produtividade aumentou", admite